Na República de Uganda, país do leste da África, onde os idiomas oficiais são o Suaíli e Luganda, a palavra ‘Kakopi’ significa ‘esta aqui’. No lançamento da Editora Melhoramentos, que carrega esse termo no título, o mesmo se refere a uma brincadeira entre crianças africanas. O autor Rogério Andrade Barbosa, professor de literatura africana, apresenta neste livro 20 brincadeiras africanas e a ilustradora Marília Pirillo completa a compreensão do leitor, em torno dessa rica pesquisa, com ilustrações que ressaltam a cultura dos diversos países, povos e jogos citados.
Se alguém procura por novas e autênticas brincadeiras infantis , eu recomendo o livro “Kakopi, Kakopi” baseado em viagens pelo continente africano e pesquisas culturais, com ênfase em literatura, do seu autor Rogério Andrade Barbosa. Ele destaca que, mesmo com as distâncias geográficas, as crianças são iguais em qualquer lugar do mundo.
“Todas as crianças gostam de correr e brincar de diferentes formas nas horas vagas. Muitas das brincadeiras africanas, como as de roda, de esconde-esconde e de jogar pedrinhas são bem parecidas com as nossas do Brasil. Outras, entretanto, como os leitores poderão comprovar, são bem distintas”.
O autor gosta de citar o escritor moçambicano Mia Couto para fazer a síntese desse raciocínio: “Vivemos em geografias diferentes, mas estamos sentados na mesma varanda”.
Países citados
Em “Kakopi, Kakopi” o autor destaca 20 países e, de cada um deles, selecionou a brincadeira mais representativa, culturalmente. A lista de países com as respectivas brincadeiras é a seguinte:
Quênia: Nyama! Nyama!
Argélia: Àrsherez
Congo: Osani
Senegal: Corrida de três
Guiné-Bissau: Surumba, Surumba
Zâmbia: A serpente
Tanzânia: Nngapi?
Namíbia: Chukulu
Burkina Faso: Sasa Kuru
Togo: Tum Tum!
Sudão do Sul: A armadilha dos felinos
Sudão do Norte: Gadidé
Zimbábue: Mwoto Mugono
Uganda: Kakopi, Kakopi
África do Sul: Mbube, Mbube
Moçambique: Mocho
Gana: Chakyti Cha
Angola: Taxi-Kabelebele-Taxi
São Tomé e Príncipe: Jogo do limão
Marrocos: Tabuaxart
Todos os países citados são mostrados no mapa da África. O autor ainda convida as crianças para pesquisarem, entre os países citados no livro, seus costumes, contos e contadores de histórias; idiomas, selos, danças, religiões, canções e culinária…
Aqui, vamos falar da brincadeira que deu título ao livro e, através dela, o leitor vai ter uma ideia de como as demais brincadeiras são descritas pelo autor: de um jeito fácil de entender e de praticar:
“Nesse jogo infantil de Uganda chamado As pernas da galinha, o destino de cada jogador é decidido pelo toque de colher de um cozinheiro de mentirinha.
O brinquedo se inicia com um punhado de crianças sentadas no chão, lado a lado, com as pernas esticadas à frente de seus corpos, como se fossem as pernas da galinha que está sendo cozinhada para o jantar.
Um dos brincantes, sorteado para ser o cozinheiro, segura um pedaço de madeira. Ou seja, a colher com a qual ele mexe a comida.
O cozinheiro, com a improvisada colher de pau em uma das mãos, sai tocando as pernas de cada criança, enquanto canta ‘Kakopi, Kakopi’.
De repente, ele para de cantar. Nesse instante, a criança que teve a perna tocada por último tem de encolhê-la, pois ela está queimada e não serve para comer.
As crianças vão sendo retiradas do jogo, a partir do momento e que tenham as duas pernas queimadas.
O ‘Kakopi, Kakopi’ termina quando restar apenas o brincante que tenha uma ou ambas as pernas tocadas.”
Esse livro tem 48 páginas, custa R$ 50,00.
Rogério Andrade Barbosa também é autor de “Ndule, Ndule”, Assim brincam as crianças africanas, outro lançamento da Editora Melhoramentos.
Ele concedeu uma entrevista ao Blog Conta uma História e comentou sobre seu encantamento pela África e o novo livro.
A entrevista
“Todas as crianças gostam de correr, brincar e jogar”

Rosa Maria: O que significa “Kakopi”? Qual a origem desse nome?
Rogério Barbosa: Kakopi significa, em um dos idiomas falados em Uganda, “esta aqui, esta aqui…”
RM: Você é um estudioso da cultura e línguas africanas? Tem outros livros do mesmo tema?
RB: Sim, inclusive sou professor de literatura africana e tenho cerca de 50 livros apenas sobre a temática africana voltada para o público infantil e juvenil.
RM: Como surgiu esse encantamento pelos povos africanos?
RB: O primeiro encantamento foi quando trabalhei durante dois anos como professor voluntário da ONU na Guiné-Bissau. Que se prolonga até hoje, já que, constantemente, retorno ao Continente Africano para pesquisar e recolher novas histórias para meus livros.
RM: Por que escolheu os 20 países? Tem uma razão especial?
RB: Os países foram escolhidos em função das brincadeiras pesquisadas.
RM: Destas 20 culturas, o que tem a destacar?
RB: Os países selecionados apresentam diferentes culturas, dando, assim, um panorama da diversidade africana.
RM: E o que destaca do livro?
RB: A produção através de encontros e material fotográfico, em parceria com a ilustradora Marília Pirillo, foi altamente proveitosa.
RM: Como tem sido a repercussão deste livro especialmente nas escolas?
RB: A repercussão nas escolas tem disso a melhor possível. Inclusive, com oficinas que eu ministro voltadas para professores.
RM: Tem lançamento previsto para a África também?
RB: O livro, por enquanto, foi lançado apenas no Brasil. Mas eu tenho outro título publicado, em inglês, em Gana.